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Se essa rua fosse minha

  • Foto do escritor: Repórter Guará
    Repórter Guará
  • 15 de fev. de 2021
  • 2 min de leitura

Atualizado: 12 de mai. de 2021

Heloisa Sousa


Vez ou outra, quando, de ônibus, passo por aquela rua movimentada, sou levada para um outro tempo. A sombra do pé de manga comum e o aroma da arruda me envolvem; sinto o calor da feira do começo de semana e o peso da sacola com verduras, voltando dela. Se eu olhar para o outro lado da rua até vejo o rosto da vizinha, Vilma, pela janela, vigiando quem passa, por cima da grade que cercava a casa ainda sem muros.


Mas nessa rua não existe pé de manga ou ramo de arruda, não existe nem mesmo um pedacinho de grama... Se seus olhos encontrarem algo verde, certamente é artificial.


Vilma, nem sei por onde anda. Nem mesmo a feira ficou intacta, teve que mudar de lugar por causa do movimento de carros.


Mas tão rápido quanto o deslocamento do ônibus por essa rua é a passagem das minhas lembranças. Ali, onde ficavam os pequenos barracões onde morei em diferentes épocas, sempre indo e voltando para essa vizinhança pelos movimentos da vida; a rua, onde cresci, só existe nas poucas fotos e na memória que ainda tenho.


Tudo nessa rua, agora, é o estacionamento de uma grande academia. A tão esperada academia, que traria a valorização da região, que traria a valorização dos lotes que poderiam ser vendidos por um alto valor. Mas, quem decidiu ir embora mais foi pelo ruído infernal de carros do que pelo dinheiro oferecido aos moradores para transformar tudo em vagas de automóveis.


Às vezes, quando me bate saudade desse tempo, acho que se tivesse ficado ali teria impedido que tudo isso mudasse, não sei como, mas o meu simples desejo seria o suficiente. Às vezes, ainda tenho a inocente ilusão de que eu teria impedido tal progresso.


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