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  • Foto do escritorRepórter Guará

Pingue-Pongue Mães Universitárias UFG

Entrevistas feitas com mães que estudam na Universidade Federal de Goiás sobre diversos assuntos, incluindo principais dificuldades de conciliação mãe/estudante, tipos de apoio que esperavam receber da universidade e apoio familiar.


· Amanda Karly Silva Araújo tem 24 anos e é mãe de William Axl Silva Rodrigues de 3 anos. Ficou grávida em 2014 e cursa jornalismo na UFG, pretende se terminar o curso no primeiro semestre de 2020.


Heloisa: Como é estar na universidade tendo um filho?


Amanda Karly: Não é fácil. Eu enfrentei muitas dificuldades para conseguir ser mãe e me manter estudando. Tranquei um ano do meu curso, e só agora com meu filho com 3 anos eu sinto que voltei de verdade para a faculdade. Ainda sim é muito complicado, porque ele sempre vai vim em primeiro lugar, essa semana mesmo eu faltei aula porque ele ficou doente e eu passei o dia no hospital com ele, então as vezes eu perco muitas coisas porque eu tenho que ficar com ele, mesmo tendo uma rede de apoio muito grande, sempre vou enfrentar essas dificuldades, e ainda tenho que trabalhar fora para poder sustentar ele, e me manter estudando, quando é sozinha a gente se vira, agora com uma criança eu preciso de garantias.


Heloisa: Então você ficou grávida enquanto estava na universidade?


Amanda Karly: Sim, eu estava terminando o segundo período.


Heloisa: Você disse q trabalha fora, então você sente que tem uma jornada dupla ou até tripla de trabalho, por conta do seu filho também?


Amanda Karly: Sim, eu nem sei quantas jornadas são, porque eu trabalho, estudo, sou mãe e cuido de casa, então é muita coisa.


Heloisa: E você recebe apoio dos seus familiares e do seu ex-marido?


Amanda Karly: Meu ex paga a pensão do meu filho, mas em casa eu que ajudo com as contas, porque a minha mãe não trabalha, então sou eu e meu irmão que mantém.


Heloisa: Eles te dão apoio quanto aos seus estudos?


Amanda Karly: Sim, muito. Não conseguiria sem eles, a minha corrente de apoio é maravilhosa, eles que ficam com o William para que eu possa fazer tudo.

Heloisa: E da universidade? Existe algum suporte para as mães estudantes?

Amanda Karly: Bom, isso é bem complicado, porque a faculdade tem a creche, mas é quase impossível conseguir uma vaga porque é por sorteio, e é aberta a comunidade em geral, as mães da universidade não tem prioridade, eu mesmo nunca consegui a vaga. Com os professores nunca tive problemas em trazer ele para as aulas.


Heloisa: Então os professores eram/são compreensivos quanto aos problemas que você pode enfrentar na universidade por ter um filho?


Amanda Karly: Nunca tive problemas em relação a isso com nenhum professor.


Heloisa: E baseada em toda essa sua experiência, o que você acha que a universidade poderia fazer pra ajudar as estudantes que são mães?


Amanda Karly: Eu acho que as mães da universidade tinham que pelo menos ter prioridade na creche.



· Rafaela Flávia Notte Cardoso tem 28 anos e é mãe do Gabriel Notte Cardoso que tem 2 anos e 7 meses. Cursa Nutrição e tem como objetivo conseguir uma bolsa de mestrado no exterior.


Rafaela Ferreira: Como é estar na universidade e ser mãe ao mesmo tempo?


Rafaela Flávia: Super desgastante. Todo dia é um leão pra matar e ninguém se importa se você está bem ou não. Digo no sentido da universidade, ter amigos é o que ameniza as dificuldades.


Rafaela Ferreira: Quando você começou o curso, você já era mãe?


Rafaela Flávia: Já era. Ele nasceu em março de 2016 e eu ingressei em agosto de 2017.


Rafaela Ferreira: Você acha que isso facilitou um pouco ou é até mesmo um pouco mais difícil para quem engravida enquanto está na faculdade?


Rafaela Flávia: Se for comparar com quem engravida durante a graduação, é mais fácil.


Rafaela Ferreira: Mas você considera que você tem uma jornada dupla de trabalho? Por causa da faculdade e do seu filho?


Rafaela Flávia: Tem jornada sem fim. Porque além de filho e faculdade eu tenho casa e marido.


Rafaela Ferreira: Quando você decidiu ingressar na UFG, seus familiares e cônjuge te apoiaram?

Rafaela Flávia: Meu marido me apoiou e me incentivou.


Rafaela Ferreira: E da universidade? Você acha que eles dão algum tipo de apoio para mulheres que têm filhos ou estão grávidas?


Rafaela Flávia: Não mesmo. A universidade não se interessa e não apoia de forma alguma a mãe ou gestante. A começar pelo mais simples, não existe um único banheiro, que eu tenha conhecimento, que dispõe de fraldário. Apoio acadêmico então pode esquecer.


Rafaela Ferreira: Qual foi sua maior dificuldade em relação a ser mãe e estudante ao mesmo tempo?


Rafaela Flávia: Conciliar tudo. Todo semestre eu acabo sacrificando alguma disciplina em prol de ser aprovada na maioria ou nas mais importantes e também para não gastar todo o meu tempo de família com faculdade.


Rafaela Ferreira: Só pra terminar, queria saber dos seus planos para o futuro em relação a faculdade. Depois de graduar, você sente vontade de fazer pós?


Rafaela Flávia: Vontade ou não na nutrição somos obrigados a fazer uma pós graduação a fim de obter especialização. Mas o objetivo é conseguir uma bolsa de mestrado no exterior.



· Juliana Martins Pereira tem 26 anos e é mãe da Jasmine de 3 anos e 6 meses. Graduada em Letras, se formou grávida. Atualmente faz Mestrado em Antropologia Social e está previsto para termina-lo em 2020. Tem planos de fazer um doutorado.


Heloisa: Qual curso você faz?


Juliana: Mestrado em antropologia social.


Heloisa: Você é uma das organizadoras do coletivo?


Juliana: o nosso coletivo é participativo, de modo que para cada reunião e atividade é selecionado um comitê para representar de acordo com a disponibilidade. A organização é feita por todas as mulheres através de um grupo de Whatsapp, de modo que marcamos reuniões para que o comitê se forme de acordo com atividades e pautas.


Heloisa: E vocês têm um dia da semana ou do mês e um lugar fixo pra fazer as reuniões?


Juliana: Não. Nossas reuniões são feitas de acordo com a abertura da instituição. Temos pautas debatidas em reuniões, e elas são levadas para UFG e os órgãos que respondem ou dialogam com nossas pautas. Também estamos construindo eventos acadêmicos como o do próximo dia 03/12 na semana de direitos humanos. Também dialogando com as questões de gênero. A Professora Ana Carolina da faculdade de história tem um grupo de estudos de Gênero e história, com o qual estamos dialogando, para desenvolver atividades educativas e sensibilização as questões da maternidade dentro da UFG. A professora também faz parte do coletivo. Fizemos uma palestra sobre gênero e maternidade com parceria CAF.


Heloisa: Então vocês recebem apoio da UFG?


Juliana: Não. Estamos reivindicando políticas de permanência como creche, porém a única politica para mães de baixa renda é a Bolsa Canguru. Algumas reivindicações como trocadores e Banheiro família foram levadas para reitoria, dentre outras pautas. Portanto temos diálogo. O apoio está sendo construído de acordo com reuniões com os órgãos que pode ou não apoiar a luta. Temos recebido apoio de alguns, mas ainda é o começo.


Heloisa: Faz quanto tempo que o coletivo existe?


Juliana: Desde Abril


Heloisa: E como surgiu a ideia de criá-lo? Quem foram as pessoas responsáveis pela idealização do coletivo?


Juliana: Surgiu da dificuldade de estar na UFG, um espaço sem o acesso a trocadores, creche, mulheres que não tem, por exemplo, espaço como licença maternidade no lattes, professoras mães que devem ter desempenhos equivalentes ao dos homens. A desigualdade de gênero é bastante agravada com a maternidade. Nós encontramos em um grupo de mães na pós graduação e espelhando nos em outros coletivos do Brasil, formamos em um espaço online, portanto a idealização foi de várias mães em um ambiente virtual que se encontraram.


Heloisa: É verdade que vocês já têm uma sala e que vai ser inaugurada?


Juliana: Sim. Conseguimos levando para a reunião do colegiado do programa de pós graduação em antropologia social, um artigo sobre a exclusão das mães nos espaços públicos acadêmicos. Desse modo o PPGAS levou adiante a nossa reivindicação considerando que não temos espaços para trocar nossos filhos, esquentar mamadeira, carrinho para deslocar pelo campus etc. A sala será ocupada na próxima semana, aonde todas as mães podem estudar, dar banho no bebê, esquentar mamadeira, temos carrinho para quem quiser utilizar, colchão para crianças dormirem. É uma conquista para nós, mesmo que seja relativamente pequena.


Heloisa: E como é estar na universidade tendo uma filha pequena? Você sente muitas dificuldades?

Juliana: Um dia levei minha filha, e fui roubada no terminal quando andava de ônibus. Aproveitaram minha dificuldade com ela no colo. Tive que banhar ela em uma torneira, porque não tinha trocador. O olhar e o incômodo das pessoas é o mais difícil. Muitos colegas se incomodam quando a criança faz barulho ou chora.


Heloisa: Quando você tem algum problema relacionado à sua filha e que acaba interferindo na sua vida acadêmica, os professores compreendem?


Juliana: Alguns sim. Mas fui encaminhada para um estágio noturno por exemplo.


Heloisa: Devido ao fato de ser mãe?


Juliana: Não, me encaminhou para o estágio noturno sem pensar que de noite eu teria que estar em casa com a minha filha e que não existe um CMEI noturno ou alguém que pudesse ficar com ela pra eu poder ir para o estágio. Então assim, o coordenador não percebeu que eu não poderia esse horário.


Heloisa: Você recebe apoio dos seus familiares e recebia quando ficou grávida?


Juliana: Recebi sim, mas todos trabalham também de modo que é complicado, a rede de apoio é limitada.


Heloisa: E a universidade? Oferece apoio direcionado pras mães? Assim, antes mesmo do coletivo existir, antes de vocês encaminharem as demandas.


Juliana: A universidade teve a creche que antes era pelo Procom. Que ela oferecia vaga direcionada à comunidade da universidade acadêmica, mas o ministério público proibiu a ação de escolher quem ocuparia a vaga em creche, mesmo sendo uma creche federal. Agora a creche é sorteio aberto à toda comunidade então não existe nenhuma forma de apoio às mães nem na arquitetura da universidade, não temos banheiro família... enfim. Já a bolsa canguru, eu não sei bem quando ela foi criada, mas eu acho que é recente também. Eu acho que foi logo depois que a Leandra teve que sair da CEU e eles ofereceram um auxílio pra que ela pudesse pagar um aluguel, mas ela é de 250 reais, então é bem pouco.


Heloisa: Então essa ação entrou em vigor e depois foi proibida pelo ministério público? Quando foi proibida?


Juliana: A Sandramara não especificou, mas já faz tempo que funciona via sorteio. Devem ter uns 10 anos já.

Heloisa: Você sente que tem uma jornada dupla (ou até tripla caso você trabalhe fora)?


Juliana: Como sou bolsista, assisto aulas, estudo bastante e escrevo artigos. Dai tem a casa, a filha e o marido como não colabora, dá trabalho mais do que colabora. Acho sim que minha jornada é dupla.



· Francisca Patrícia de Souza Silva tem 29 anos e é mãe da Luma Helena Souza de Moura de 7 anos, engravidou em 2011. Fez 2 períodos de Pedagogia. Cursa Jornalismo atualmente e tem como previsão terminar o curso em 2022.


Heloísa: Como é estar na universidade tendo uma filha?


Patrícia: Limita um pouco algumas coisas, por exemplo, trabalhos, extra horário de aula, que fica bem difícil para mim, se eu tiver que me deslocar da universidade eu tenho que ir em casa buscar ela, ou então tenho que fazer pela internet, para eu ficar vindo aqui na universidade é bem difícil... tem uma cobrança porque eu sou casada, então é meio que um acordo que eu fiz com meu marido, eu tenho que estar em casa a 13h da tarde, que é a hora que eu chego em casa, eu chego em casa 13h10 em ponto, foi a condição que ele me deu para me deixar estudar.


H: Então você não teve apoio dele para estudar?


Patrícia: Não, até hoje eu estou esperando os parabéns dele por ter passado na UFG quatro vezes.


H: Quatro vezes?


Patrícia: Eu fiz Enem duas vezes, com o Enem eu conclui o ensino médio por que eu fiz só até o primeiro ano, ai eu passei na primeira chamada em dois cursos ano passado, pedagogia e letras libras. Eu queria jornalismo e não sabia que tinha outras chamadas, mas eu passei nesses dois. Esse ano eu passei em artes visuais licenciatura e depois jornalismo na terceira chamada.


H: E você começou a fazer pedagogia?


Patrícia: Sim, fiz dois semestres.


H: E porque você não terminou? Você não queria mesmo?

Patrícia: Não, eu penso que eu a pedagogia eu posso fazer um pouco mais velha, agora o jornalismo para começar depois complica um pouco, se for para atuar na área, porque eu já tenho 29 anos.


H: Seu marido não te apoiou a fazer faculdade, mas alguém da sua família apoiou?


Patrícia: Minha mãe, a mais importante, minha mãe e minha enteada, minha enteada ficou super feliz, ela inclusive me ajudou a "baruiar" meu marido.


H: Você trabalha fora? Além de fazer universidade?


Patrícia: Não.


H: Mas você sente que por ter uma filha você tem uma jornada dupla de trabalho?


Patrícia: Sim, sim, tem a questão do marido também, e tem outra questão das atividades da faculdade, se eu tiver que fazer um trabalho, eu tenho que fazer depois que ele sai para o serviço dele, porque se eu fizer em casa, mesmo que ele esteja dormindo, ele vai dizer que eu estou deixando de dar atenção para ele para fazer as coisas da universidade, então eu tenho que o deixar ir para o serviço, e como ele trabalha a noite, eu faço meus trabalhos 11 da noite, meia noite.


H: Por exemplo, você estuda porque você pretende se formar e trabalhar nessa área, ele tem algo contra você trabalhar?


Patrícia: Não. Não faz sentido, eu acho que ele tem um pensamento de que se eu estiver trabalhando, eu estou ajudando nas despesas de casa, e estudar eu só venho na universidade, cheia de jovens e essas coisas.


H: Quando você entrou na universidade você já tinha sua filha?


Patrícia: Já, já tinha minha filha, foi o ano passado, ela estava com 5 anos.


H: Você pensava em entrar na universidade antes, quando você engravidou dela?

Patrícia: Na verdade, é o seguinte, eu sempre fui muito boa aluna, no ensino fundamental eu era destaque, mas quando eu fui pro ensino médio eu detestei, foi uma escola que eu odiei, e aconteceram uns problemas na minha vida e eu sei que entrei no primeiro ano do segundo grau umas quatro vezes, começava e parava, começava e parava, ai eu comecei a trabalhar na feira e não via mais lógica em estudar, para mim eu peguei trauma de ensino médio. E eu tinha uma vontade de fazer faculdade, na verdade, desde meus 8 anos eu queria ser jornalista, já era decidido, então eu tinha vontade, mas era algo meio reprimido dentro de mim, eu até evitava falar pras pessoas que eu queria ser jornalista, porque como eu ia fazer ensino superior sem fazer o médio? E eu não me imaginava voltar para a sala de aula fazendo médio de novo. E eu concluí o primeiro ano na quarta vez que eu entrei porque uma das minhas melhores amigas estudava e ela praticamente me arrastou para concluir o primeiro ano, e isso faz tanto tempo que hoje ela já é psicóloga fazendo uma pós. Então eu só conclui o primeiro ano, eu quis fazer superior, mas era algo meio impossível sem o médio completo, mas deu certo e eu consegui.


H: E você acha que a universidade oferece algum tipo de apoio para as mães?


Patrícia: Não, é uma resposta até abstrata, não tem como definir porque eu nunca procurei efetivamente alguém, como nossa professora Luciene disse que se precisasse podia chamar ela, eu nunca procurei para dizer que precisava de algo. Eu imagino que eu até terei, mas como eu nunca fui atrás, eu não vejo diferenciação de tratamento. Igual, eu tenho minhas obrigações, como cobrança de professores e etc.


H: Os professores são compreensivos? Por exemplo, você tem um problema em decorrência de ter uma filha, você acha que eles são compreensivos?


Patrícia: Sim, acho que só teve um professor da pedagogia que ameaçou me reprovar mesmo eu tendo nota e tudo, porque eu chegava todo dia mais tarde porque eu tenho eu levar minha filha, e o horário de lá era 7h, e eu sei que um dia ele estava meio estressado e disse "você sabe que se eu quiser te reprovar, eu posso, porque se somar essa meia hora que você chega atrasada todo dia da as 16 faltas", mas eu já tinha falado com ele, eu falei com todos, levava minha filha, já teve professora que cuidou da minha filha para eu fazer prova.


H: Você faz 2 semestres de pedagogia né? É muito tempo, e você gostou?

Patrícia: Sim, 2 semestres. É um curso maravilhoso, mudou minha vida. Eu até acho que as pedagogas são muito desvalorizadas pelo tanto que elas estudam, elas estudam bastante. Eu acho que na licenciatura, as pedagogas são as que estudam bem mais, porque o estudo da pedagogia é bem mais abrangente. Não é uma matéria só. A pedagogia é direcionada ao fazer educação, então desde programação de aula, criar escola, dirigir escola, pensar educação, estilo de ensino que vai ser aplicado naquela instituição, tudo. É uma carga pesada. Mas se eu tivesse condições, eu faria jornalismo aqui e pagaria para fazer pedagogia.


H: Você acha que a vida na universidade interfere na relação que você tem com a sua filha? Na criação dela?


Patrícia: Sim, sobretudo porque foi pedagogia, tem um exemplo que eu já tinha em pensamento, mas depois que eu entrei na pedagogia eu tive certeza. Porque alguns erros que tanto professores quanto pais cometem, e nós que somos irmãos e tios mais velhos também, é querer que a criança seja adulta antes da hora, igual a pergunta de "oque você vai ser quando crescer?, a criança já é, ela não vai ser, ela já é alguém, ela já é um indivíduo, e isso mudou muito a forma de ver a minha filha, como alguns meses atrás a professora dela veio chamar minha atenção dizendo que ela ainda não estava sabendo ler, só que ela tem 6 anos, quase 7, eu aprendi a ler com 9, e isso não me atrapalhou em nada, e eu penso "Essa cobrança é pra que? Que diferença vai fazer? Ela não vai trabalhar, não vai precisar disso pra nada, deixa a criança ser criança”, eu levo assim, agora que ela está começando a querer ler, mas eu não forço, porque eu quero que ela seja criança e faça as coisas no tempo dela, e isso eu já pensava , mas com a pedagogia eu tive certeza que é a melhor forma de lidar com a minha filha.


H: Você diz que nunca procurou saber se a UFG oferece apoio para as mães, mas caso não ofereça, oque você acha que a UFG poderia fazer para oferecer esse suporte?


Patrícia: Eu não sei, porque tem a creche, mas a creche é bem limitada, inclusive ano passado eu tentei colocar minha filha na escolinha, mas é bem limitado, então eu não sei, talvez ampliar vagas, dar preferência pras alunas, porque essa escola aqui não é pras acadêmicas, é pra comunidade em geral, então eu acho que talvez dar preferencia pras alunas que tem filhos, seria um bom começo.



· Karine Menezes da Cunha tem 29 anos e está grávida do Noah, que nascerá em dezembro. Se gradou em Publicidade no ano de 2011. E atualmente cursa Educação Física, se forma em 2018.


Heloísa: Como que foi quando você descobriu que estava grávida sendo estudante? Pensou em desistir? Qual foi sua reação relacionada à universidade?


Karine: Foi tranquila, eu não pensei em desistir não, já estava acabando o curso, só tinha mais um semestre, fiz as contas para saber se a criança ia nascer antes ou depois, deu o tempo certinho, então segui tranquila.


H: Você recebeu apoio dos seus familiares?


Karine: Sim.


H: E da universidade?

Karine: Apoio assim, não, mas meus professores são bastante compreensíveis, porque a gente tem muita aula prática e os professores me ajudaram bastante nesse quesito de aula prática e tal, então isso conta como apoio né.


H: Você se sente amparada?


Karine: Sim.


H: Você tem planos de uma pós? Porque você já vai ter seu filho né.


Karine: Normal, vou ter meu filho em janeiro e em março devo voltar às atividades.


H: E como você vai fazer? Tem alguém para ficar com seu filho?


Karine: Tenho minha mãe, ela vai me ajudar.


H: Quando você ainda estiver estudando aqui, e seu filho estiver grande, você espera conseguir colocar ele na creche?


Karine: Não, não tenho essa pretensão. Não pretendo colocar ele na creche, pelo menos não por esses dois primeiros anos. Vai ficar em casa mesmo enquanto eu estiver estudando. Mas eu colocaria porque a creche aqui é muito boa. Eu faço estágio no DEI. Eu gosto bastante.


H: Como que é lá?


Karine: É incrível o trabalho deles lá, muito legal. É sorteio né? Por isso é difícil arrumar vaga. Mas se eu conseguisse eu colocaria, porque é um lugar divino. Muito legal mesmo. Mas eu por opção minha, nesses dois primeiros anos, eu acho legal ficar em casa, dar um tempinho pra criança, ela vai estudar a vida inteira, acho que se eu tenho alguém que ajuda, eu prefiro do que colocar na creche.


H: Você já sabe o sexo?


Karine: É homem.

H: como vai se chamar?

Karine: Noah.


H: Ah sim, você tinha falado mesmo. E sua rotina mudou muito desde que você descobriu que estava grávida até agora? Até fora da universidade.


Karine: Não, não muito. Oque muda mais são as consultas no medico, mas é uma vez no mês, coisa rápida. Não tive muita restrição, não passei mal, não tive nada fora do usual. Então eu consegui ter uma gravidez tranquila. No comecinho da gravidez eu passei um pouco mal, mas nada que não desse pra aguentar. Eu vinha pra faculdade, tomava remédio, ficava tudo bem, não mudou muito.


H: Você trabalha fora?


Karine: Não.


H: Você sente que quando seu filho nascer você vai ter uma jornada dupla por estudar?


Karine: Não, eu já estou acostumada a ficar ocupada o dia inteiro. Agora eu estou estudando em período integral porque eu fiz um intercâmbio por um tempo e atrasei a faculdade. Então eu estudo praticamente de manhã, de tarde e de noite. E quando eu não estava estudando, eu estava trabalhando. Então já estou acostumada, vou trocar uma coisa pela outra. Não vou ter a faculdade, mas vou estar ocupada com a criança.


H: Você se forma ano que vem?


Karine: Formo agora, final do ano.


H: E você vai ter tempo né?


Karine: Vou ter tempo, preciso completar com bacharel, ano que vem vou ficar por conta do bacharel, completar mais um ano, porque meu curso é licenciatura. Então eu ficaria com o bacharel e só depois eu iria ver. Mas o complemento é quase uma pós praticamente. Mais um ano.


H: Como é seu percurso de casa até aqui?

Karine: Como assim?


H: Você vem de ônibus?


Karine: Ah sim, eu venho de carro, esse ano eu estou vindo de carro por conta de vir muito cedo e sair muito tarde. Mas antes eu vinha de ônibus mesmo e voltava de ônibus, agora eu estou vindo de carro pra facilitar mesmo, ganhar tempo e questão de cansaço.


H: O que você espera da universidade depois de você ter tido seu filho? Você espera receber algum tipo de apoio? Ou oque não tem aqui e você gostaria que tivesse pras mães?


Karine: Bom, eu não espero nenhum tipo de apoio, porque não vou estar aqui mais, mas acho que questão de apoio dos professores, disciplinas e acho que já pé bem legal, e é o mais importante. Porque assim, eu não acho que seja responsabilidade da faculdade oferecer mais do que isso, que é ensinar. Porque aqui o importante é o ensino, a gente está aqui para estudar e nesse quesito os professores são bem compreensíveis, eles ajudam bastante. Se precisar sair mais cedo, precisar dar um atestado, não posso fazer uma aula, não estou me sentindo bem, eles me dão apoio. Então nunca me senti lesada em momento algum. Pra mim foi suficiente. Não sei pra outras mães, que talvez precisassem trazer os filhos pra cá porque não tinha com quem deixar, não sei. Mas eu não sei se isso seria uma responsabilidade da faculdade, entendeu? Eu não cobraria algo desse tipo da faculdade. Mas talvez fosse bem vindo pra outras pessoas que talvez não tem a mesma condição de ter alguém pra ajudar.


Rafaela: Então você se sente confortada? Aqui é um ambiente confortável?


Karine: Sim, sim.


R: Em nenhum momento da gestação?


Karine: Não me senti lesada em nenhum momento. Recebi ajuda de todo mundo, professor, pessoal da cantina quando precisava ajudava. Pra mim foi bem tranquilo.

R: E como é sua rotina?


Karine: Eu venho pra cá 5 dias da semana, chego bem cedo tipo 7h, e saio 18h30 da tarde, então eu posso o dia aqui, almoço aqui. Tenho aula no período completo. Na segunda eu tenho aula a noite e é bem tranquilo, a faculdade oferece vários ambientes, tipo essa daqui de estudo. Tem rede lá fora, tem umas salas confortáveis. Então em momento algum eu senti “nossa, preciso ir para minha casa”, porque eu acho aqui super acolhedor, um ambiente legal.


H: Sua gravidez está sendo tranquila também?


Karine: Tranquila, não passei mal, não tive problema nenhum, nenhuma precisei de repouso, não tive nenhuma observação a mais. Então pra mim foi tranquilo.


H: É seu primeiro filho?


Karine: Sim. Sim.



· Eduarda Garrasini Leitzke tem 18 anos e está grávida de 39 semanas do Martí. Cursa Ciências Sociais e está previsto para terminar o curso em 2021 e tem planos de fazer alguma pós graduação.


Heloisa: Então, quando você soube que estava grávida?


Eduarda: Eu estava com 7 semanas, tendo aula normal...


Heloisa: E qual foi sua reação? Principalmente relacionada ao fato de que você está na universidade.


Eduarda: Foi um susto né... Primeiro porque estava perdida em relação a maior parte das coisas, e dependendo de como as coisas fossem fora da universidade eu teria que arranjar um emprego... Provavelmente abandonar o curso.


Heloisa: Você recebeu apoio familiar?


Eduarda: depois do primeiro trimestre, sim. Só recebi esse apoio por que meu companheiro arranjou um trabalho...


Heloisa: Você pretende continuar estudando depois que seu filho nascer?


Eduarda: Quero sim, entretanto, ele vai ter que ir junto comigo.

Heloisa: Então você espera algum tipo de apoio da universidade já que vai ter que levar seu filho?


Eduarda: Seria ótimo se tivesse, mas já estou planejando isso sabendo que não o tenho. Vou depender mais da compreensão da turma e dos professores.


Heloisa: Que tipo de apoio você gostaria que a universidade oferecesse?


Eduarda: Coisas básicas, como um banheiro com trocador, um lugar pra poder deixar as coisas do bebê, atualmente já conseguimos conquistar uma sala de estudos para mães, isso já foi muito importante, mas isso são coisas pequenas e até fáceis de resolver. Importante mesmo seria que nós tivéssemos acesso à creche como maneira de prioridade, professores/alunos/servidores da UFG, pelo menos durante o período de estadia na universidade.


Heloisa: Quando você ficou sabendo que estava grávida, você recebeu algum tipo de apoio das pessoas da universidade pra continuar estudando? Tipo, outros estudantes, servidores da universidade?


Eduarda: Ah, todo mundo falou para eu continuar, que não podia parar, mas quando eu colocava minhas questões de dificuldade ninguém sabia respondê-las. Mas alguns colegas do meu curso estiveram muito presentes e após começar a ter mais contato com outros grupos como o de mães facilitou para que eu me situasse.


Heloisa: E você está grávida de quanto tempo?


Eduarda: Estou com 39 semanas e 5 dias.


Heloisa: Quando você se afastou da universidade?


Eduarda: Duas semanas atrás, eu moro bem longe, dependo de ônibus, sabe? Aí fica difícil a locomoção.


Heloisa: Como estava sendo sua rotina quando você ainda ia estudar?


Eduarda: Minha sorte que nos ônibus temos os assentos preferenciais... Mas na sala devido a ter comunicado todos os professores com antecedência a maioria levou bem a situação. Mas quase nenhum sabe sobre as políticas da universidade relacionada a grávidas, tipo de afastamento e tudo mais...

Heloisa: Você recebeu ou recebe apoio psicológico?

Eduarda: Não.


Heloisa: O que você acha sobre isso? Você acha que deveria ter algum tipo de apoio psicológico a ser oferecido pras mães universitárias?


Eduarda: Sim, sem duvidas é muito importante, principalmente relacionado à essa questão de permanência na universidade.


Heloisa: Teria feita diferença pra você esse tipo de suporte?*


Eduarda: Acredito que ainda pode fazer, afinal meu bebê não nasceu ainda.


Heloisa: Você faz parte do coletivo de mães universitárias, certo? Pra você, isso faz muita diferença? Você se sente amparada? Qual sua experiência quando a isso?


Eduarda: Sim, uma participação recente, sei que se precisar sempre tenho alguém à disposição de conversar, principalmente quando tenho dúvidas até onde podemos ou não fazer algo na universidade, como essa questão de levar o bebê pra sala.


*Heloisa: E quais são seus plano pra depois que seu bebê nascer?


Eduarda: Meu bebê nasce para o final do mês agora, (já deveria ter nascido inclusive). Mas até as aulas voltarem, por que o recesso de fim de ano é maior, acredito que ele já esteja perto dos três meses, vou entrar com uma solicitação de atendimento domiciliar, devido ao fato de morar em Aparecida de Goiânia e não possuir condições de ir, e vou acompanhar as matérias que oferecerem essa disponibilidade a distância, as que têm presença obrigatória como estágio, vou ter que arrumar uma maneira de me deslocar até lá. No segundo semestre já poderei pegar ônibus com ele tranquilamente e ele assistirá as aulas comigo.


Heloisa: Você está em qual período do seu curso mesmo?


Eduarda: Terminei o 4º.



· Anna Karla Madureira Meirelles tem 23 anos e é mãe do Kauã de 2 anos. Cursa Educação Física.


Heloisa: Me conta como é a experiência de ser mãe na universidade, se os professores são compreensivos, como é?


Anna Karla: Bom, vou começar com a experiência, minha experiência na universidade com meu filho, até no momento que eu estava gravida foi positiva, os professores foram super compreensivos, porque aqui nós temos atividades práticas, eu faço educação física aqui, então nós temos atletismo, handebol, futebol, vôlei, natação, basquete, e nós juntos aqui, com os professores foram muito receptivos, tenho fotos grávida de 8 meses fazendo futebol, prova prática. Foi bem receptivo no momento da minha gestação, eles foram super acolhedores, acolheram a causa dos meus limites e provas das disciplinas.


H: Você recebeu apoio da sua família?


Anna: Sim, meus pais são separados, e eu recebi da minha mãe e do meu pai um apoio significativo pra continuar estudando sem ter que trabalhar, durante a gestação e depois que eu tive ele, continuei estudando e entrei num estágio com remuneração bem baixa, mas consegui. Meu filho hoje fica com a minha avó no tempo que estudo, que é de manhã e a tarde. Então eu tenho esse auxilio da minha família para me ajudar, para que eu consiga continuar estudando. Assim que eu ganhei o Kauã, eu trabalhei num clube com crianças com deficiência, ai era meio período. Ficava um período na faculdade e outro no estágio, então ele sempre ficou com a minha avó. Eu tive alguns problemas muito sérios com a coordenação em questões de quando eu tive meu filho. Na verdade, eu tive uma sorte, porque quando saiu da greve de abril do ano passado, meu filho nasceu, e eu entrei com pedido pra aproveitar disciplinas EaD, que não são práticas, ai eu peguei essas disciplinas online, e fiquei 4 meses distante, que é o que a mãe tem direito, fazendo disciplina EaD, fiz uma disciplina EaD, porque eu estava terminando minha grade curricular, ai eu deixei de formar um ano a mais porque o estágio é 100% obrigatório, e eu ganhei o Kauã, na segunda semana eu começava o estágio, e eu estava com ponto ainda e não podia vir. E eu tentei conversar, dialogar pra ter essa liberação aqui, e eles não liberaram porque era obrigatório.


H: Você conhece a Bolsa Canguru?


Anna: Não, eu conheço só a bolsa permanência, inclusive eu tentei esse ano e não consegui. Uma das minhas justificativas foi que eu não estava trabalhando e precisava de auxilio pra sustentar meu filho e concluir o curso no final do ano. Não consegui e fiquei pra lista de espera.


H: Você sente que tem uma jornada dupla por estudar e ter um filho?

Anna: Sim, porque eu tenho que dedicar um tempo para o meu filho e dedicar tempo pra universidade. Isso não é fácil porque a criança tem os momentos dela, a rotina dela, e a universidade também, então tem que se dividir em duas pra conciliar. Ainda bem que tenho minha mãe, minha avó que ajudam. Eu saio daqui e minha mãe busca meu filho, leva pra casa. Sem elas, eu não estaria mais fazendo o curso, teria que trancar, esperar ele crescer e depois voltar.


H: Você recebe apoio do pai do seu filho?


Anna: Não, o pai do meu filho é estudante daqui, da mesma unidade que eu. O único apoio que ele dá é quando ele vai lá em casa, vê, pergunta se precisa de algo, leite, fralda. Ele vai uma vez por mês lá em casa. E durante muito tempo eu passei muitos problemas com ele aqui dentro da UFG, questão de perseguição, ameaça, difamação, várias coisas aqui dentro eu passei e não tive apoio nenhum.


H: E como mãe você recebe apoio da universidade?


Anna: Não, também não, nenhum apoio. Inclusive, eu faço parte da Chapa 1 do DCE, porque a gente quer voltar as vagas do DEI pros estudantes que são mães, técnicos, terceirizados, que tinham antigamente e não tem mais. A gente quer pelo menos uma vaga, que seja para as mães daqui da universidade, e não amplo. A gente quer voltar essa politica pra cá, e eu sou do centro acadêmico daqui também.


H: Muitas mães falam disso, que não tem preferencia na creche e isso é um problema.


Anna: Em 2010, 2012 ou 2013, não sei, tinha essa preferência aqui pras estudantes. Era pra técnicos, terceirizados, aqui na universidade e eles alegaram que a comunidade é mais importante. E que tinha que abrir para todos. E para mim, já é o segundo ano que eu tento o sorteio do DEI, esse ano testou tentando novamente, porque eu venho pra cá a tarde, para mim, é muito mais fácil deixar ele aqui e quando acabar a aula, eu busco, é melhor pra mim e pra ele que eu posso conciliar. Em 1994 quem deu inicio a creche foi os trabalhadores, terceirizados que trabalhavam aqui, foram eles que deram inicio a essa luta para conseguir deixar seus filhos aqui, e a universidade veio e cortou isso abrindo pra comunidade. Eu acho que é válido sim, a comunidade precisa participar desse processo aqui dentro. Mas acho que também precisa ter divisões, pelo menos uma ou duas vagas para as mães. Aqui devem ter mais de 30, 40 mães e pais também, porque a gente não conta só mãe, conta pai também. E eu acho que isso é essencial para os técnicos, professores, alunos principalmente que não tem esse auxilio, já não tem auxilio com dinheiro, com bolsa, alimentação, ai não tem com creche também. Fica muito complicado deixar a criança lá no Vale dos Sonhos para estar aqui 13h da tarde e depois sair, buscar a criança novamente lá, nem todo mundo tem carro ou condições. Isso acaba atrapalhando a vida do estudante.


H: Depois que seu filho nasceu, quando você tem algum problema, por exemplo, ele fica doente ou estuda longe, os professores são compreensivos?


Anna: Esse semestre eu tive um problema, meu filho ficou internado 13 dias. E eu estava pegando estágio obrigatório aqui na creche. Minha professora regente foi super compreensiva, eu consegui conversar com ela, tive um diálogo com ela, e ela me mandou ficar com meu filho lá, eu fiquei 7 dias com ele, e depois eu iria repor as aulas. Alguns professores são flexíveis nesse ponto, outros não. Teve uma gestante em 2016 que a professora disse para ela que gravidez não era doença e que era melhor ela não fazer a disciplina porque tinha que fazer alguns movimentos e isso atrapalharia ela a fazer as atividades. Então é muito complicado, porque vai da visão de cada professor, mas aqui na unidade nós temos professores muito compreensivos e que estão sempre nos ajudando e apoiando.


H: Você disse que está em uma chapa, e que um dos objetivos de vocês é que volte na creche um número de vagas destinado à comunidade acadêmica. Tem algum outro tipo de apoio que você espera que a universidade desse para as mães?


Anna: Eu como mãe gostaria muito que a creche aumentasse. Em 2013 para 2014, a gente tinha o agrupamento beija flor, de crianças pequenas de 4 meses a 1 ano, que era o berçário, e eles cancelaram isso por causa de verba e professores que não vinham. E eu gostaria que tivesse um apoio maior pra essas mães que estão aqui. Mas eu acho que isso já vem um movimento maior que não depende só da reitoria, e isso da junção dos estudantes pra conseguir as coisas. Como um ônibus que saísse de um terminal especifico e viesse direto pra cá, sem parar. Por exemplo, tem o 263, podia ter um que saísse do terminal só pra estudantes, com carteirinha, e seria muito mais fácil pra nós como mães, trazer nossos filhos, porque é complicado entrar num 263 ou em um 105 com uma criança de colo e com pessoas desconhecidas. E eu gostaria que tivesse esse auxilio, como bolsas especificas, não necessariamente o dinheiro, mas fraldas, desconto com algo, conseguir mais disciplinas EaD, um leite, essas coisas assim concretas, materiais que ajudam.


H: Você acha que poderia ter algum tipo de apoio psicológico para as mães?


Anna: Isso é muito importante. Eu acho que deveria ter sim apoio psicológico para as mães, mas não só mães, mas pra todas as mulheres daqui. A gente tem o saudavelmente, que é um programa com psicólogos, tenho amigas que fazem, mas ele é um programa ainda superlotado, infelizmente, e você conversa com alguém 30 minutos, sei que é o tempo de sessão, uma vez por semana. Então como uma mãe, que passou muita coisa na vida, eu não busquei esse recurso aqui dentro, busquei fora, eu e minha família, a gente buscou isso fora e isso é prejudicial, até para a universidade. Porque muitas mães aqui dentro deixam de fazer algumas coisas, demoram para formar, por causa disso, por falta de programas e falta de conhecimento desses programas. Às vezes as pessoas nem sabem que tem esses programas, que tem bolsa permanência, que tem o RU, não sabe do DEI e do CEPAE. Então esses programas deveriam se expandir e criarem mais também. Então, atendimento psicológico é essencial, tanto para as mães, quanto para todas as mulheres, homossexuais, pessoas que tem dentro da universidade. Militante, não militante, direita, esquerda, mãe, pai, gay, lésbica, trans. Isso é muito importante aqui dentro e devia ser mais representado e divulgado para a comunidade estudantil. Aqui na unidade não chega muita coisa porque é muito afastado, eu fiquei sabendo do DEI porque o pai do meu filho estudou no CEPAE. Minha amiga que está grávida ficou sabendo do DEI por fazer estágio no DEI. Eu tenho tempo livre e internet, então eu fico sabendo de algumas coisas às vezes, tem gente que não tem tempo e nem ouve falar, e não fica sabendo.


H: Tem mais algo que você queira falar sobre o assunto? Ou algo que a UFG poderia fazer pelas mães?


Anna Karla: Eu gostaria que a UFG pudesse dar um apoio para as mães que estudam aqui dentro, em questões psicológicas, para as mães que tem problemas com os pais universitários. Isso é um problema muito difícil de falar aqui dentro porque é algo pessoal, as pessoas não conseguem falar. E nesse pleno século 21, a gente sabe que a coisas estão totalmente diferentes. As situações das mães em relações aos pais, até mesmo grávidas e depois que está grávida. E a universidade não dá esse apoio. Ela não chega na aluna grávida ou com filho e pergunta se precisa de algo, seja direção, coordenação ou reitoria. No começo desse ano, a gente teve um relato de uma estudante da UNB, foi em Brasília ou Porto Alegre, não lembro agora, que estava grávida e sofreu ameaças do namorado dela e publicou isso dentro da universidade todinha, publicou mensagens no WhatsApp do namorado dela ameaçando. Eu sofri isso aqui dentro, eu tenho quatro Boletins de Ocorrência no nome do pai do meu filho, de ameaça, difamação, injúria e perseguição. Inclusive, ele me perseguiu aqui dentro da universidade. Eu estava em uma semana de aula de uma disciplina de verão que eu vim fazer, e ele ficava encostado ali na faculdade de informática num carro me esperando passar, vendo oque eu estava fazendo e com quem eu estava. E eu não tive apoio nisso. Fora outras coisas que passei aqui dentro, no estacionamento da FEFD, por ser aberta pra comunidade. Eu fui colocar meu filho no carro e eu tinha medo de alguém me assaltar. Inclusive, na época estava tendo uma onde de assalto enorme aqui. E eu tenho esse receio de trazer meu filho pra cá por causa disso. E outras coisas que eu acho que deveriam ser mais expostas para a comunidade e para a reitoria também, questão de segurança das mães. Nós não temos projetos de extensões, se tem, tem que pagar alguma taxa ou tem que ficar na lista de espera, esperando pra ser chamado. Aqui na FEFD nós temos muitos projetos de extensões para crianças. Nós temos na piscina, na pista de atletismo, no ginásio de lutas, mas eu vejo que lá pra cima tem poucos. Por exemplo, eu tenho muita vontade de colocar meu filho num projeto de extensão de raciocínio lógico, língua portuguesa, uma língua estrangeira lá na FL, eu fiz línguas na FL até eu engravidar, era a noite. E eu vejo que lá não tem pra criança. Se paga semestral para adulto, podia pagar uma semestral para uma criança também. E nunca vi nenhum projeto de música, se tiver, posso estar enganada. Mas nunca chegou até mim. Até crianças com deficiência, eu não vejo que tem algo assim aqui. Por exemplo, eu tenho um filho com síndrome de down, e eu não vejo nenhum projeto voltado a demanda dessas crianças, ou adultos. Eu conheço o Se Inclui para o pessoal lá de cima, da Reitoria, que faz um trabalho muito positivo, mas é pra alunos e não as crianças que são filhos de alunos. Então falta projeto de extensão, pensam muito na comunidade, mas esquece do principal, que é as pessoas que estamos formando aqui dentro da universidade. Meu ponto é esse, focar na parte psicológica das mães, porque está acontecendo muito, as mães sofrem repressão dos pais, às vezes a família não ajuda, ou é de outro estado. E eu vejo que aqui na UFG eu não tive nenhum apoio e sofri muito, muito preconceito, de pessoas que conheciam ele, as pessoas me olhavam, falavam, comentavam. E eu sofri demais aqui dentro. Mas eu tenho uma família que me orientou e hoje eu sei lidar melhor com essa situação.

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