Mulheres jornalistas nas lutas sindicais
- Repórter Guará
- 25 de fev. de 2021
- 3 min de leitura
SindJor ainda conta com maioria masculina
Heloisa Sousa
Denise Rasmussen é jornalista autônoma e secretária-geral do Sindicato dos Jornalistas
de Goiás (SindJor) desde agosto, quando a nova chapa assumiu a direção do sindicato.
Ela se filiou em 2015, quando encontrou suporte na corporação após sofrer assédio
devido a reclamações quanto à carga horária dos jornalistas. Denise foi acusada pelo
local em que trabalhava de recorrer ao sindicato para resolver esse problema, e foi assim
que se filiou à instituição: “falei: já que eu estou sendo acusada de algo que eu não sei,
vou verificar isso aí. E foi quando eu conheci o sindicato”, conta.
Mesmo que Denise ocupe cadeira na parte executiva do sindicato, a maioria da diretoria
ainda é composta por homens. Geralda Cunha, jornalista e radialista não sindicalizada
na capital goiana, fez alguns apontamentos a respeito dessa discrepância na direção. “As
mulheres sempre foram relegadas ao segundo plano, elas quase nunca ocuparam espaço
de chefia sindical, de militância social e partidária”. Segundo ela, as mulheres até são
bem-vindas nesses seguimentos, mas para receber ordens e nunca para ocupar cargos de
chefia.
O Sindicato dos Jornalistas de Goiás já teve mulheres na presidência, como é o caso de
Maria José Braga, que hoje preside a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), onde
de nove pessoas na diretoria, sete são mulheres. Essa diferença entre a federação
nacional e o sindicato goiano pode ser explicada pelo fato de que na década de 90, foi
estabelecido pela Fenaj que 30% da direção deveria ser ocupada por mulheres, sistema
de cotas que não está previsto no estatuto do Sindicato dos Jornalistas de Goiás.

O número de mulheres que são filiadas ao SindJor é de 155, enquanto os homens
correspondem a 238 membros agregados (dados de 2019). A diferença nos números de presença masculina e feminina quando o assunto é formação jornalística também está presente nas salas de aula do curso de jornalismo da Universidade Federal de Goiás (UFG). Do ano 2000 até 2016, dos 722 estudantes formados no curso em questão, 486 eram
mulheres, segundo a Coordenadoria de Expedição e Registro de Diplomas da UFG,
diferença que não é proporcional à quantidade de mulheres jornalistas sindicalizadas.
Machismo Estrutural
A não filiação dos jornalistas formados já é uma pauta dentro do sindicato regional, mas
a ausência das mulheres nesse espaço em comparação aos homens não têm uma
explicação evidente. Cláudio Curado, presidente do SindJor, acredita que a falta de
consciência política pode ser um fato responsável por essa não filiação. Segundo ele,
isso, aliado a outros fatores sociais como os trabalhos domésticos, maiores jornada de
trabalho e a maternidade, também é o principal motivo pelo número de mulheres no
sindicato ser o atual. “Há esse distanciamento porque não há essa consciência crítica do
cidadão”.
Mas o buraco é bem mais embaixo, como lembra Maria José, quando se fala da
participação feminina na luta sindical. Para ela, o problema também se relaciona à
estrutura social sob a qual homens e mulheres vivem, que coloca sobre as mulheres
duplas a até triplas jornadas de trabalho, enquanto os homens não se sentem
responsáveis por também assumir esses papéis e podem se manter nos cargos de
liderança e no protagonismo das lutas sindicais. “Começa da divisão doméstica de
trabalho que sobrecarrega a mulher. Mas, volto dizendo, a situação precisa ser
trabalhada para que haja condições de participações de todos”, diz ela.

Algumas estudantes de jornalismo, quando perguntadas sobre se pretendem se filiar quando formadas, admitem a importância dessa instituição na garantia de direitos do profissional e demonstram interesse em estar nessa luta. “Se você não tiver jornalista mulher no sindicato não vai ter como atender as necessidades, as demandas que jornalistas mulheres têm, problemas que acontecem só com jornalistas mulheres não são resolvidos”, diz Gabriela Macedo, estudante de jornalismo na Pontifícia Universidade Católica.
Inclusão
A Fenaj tem uma comissão voltada para a atuação das mulheres na federação. Esse tipo
de política que dá abertura para a participação feminina é considerada importante para
Gabriela e também para Geralda. Ambas acreditam que as políticas de incentivo devem
ser promovidas dentro dos sindicatos. “Os colegas homens têm que ser incitados, têm
que ser provocados a garantir condições para que as mulheres tenham interesse e
condições de estar lá”, disse Geralda.
Além da questão de gênero, a questão racial também é trazida por Cláudio Curado. Esse
é outro recorte que ele acredita que deve ser levado em consideração quando se fala de
política de inclusão. A Federação nacional dos Jornalistas conta com uma Comissão de
Identidade Racial, pois, como evidencia Cláudio, se há uma deficiência na presença de
mulheres nessas instituições, a presença de pessoas não brancas é ainda menor.
Denise conta que uma das ações da nova gestão do SindJor é tentar identificar por que
os jornalistas não estão se sindicalizando e entender isso dentro do recorte de gênero.
“O sindicato acabou ficando um pouco distante dos profissionais, então agora estamos
tentando mudar esse cenário e atrair não só mais mulheres, mas também os homens,
pois a luta é de todos”, finaliza ela. O sindicato também tentará uma aproximação com
os estudantes de jornalismo do estado, o que pode ajudar a entender de forma efetiva
porque, apesar de tantas jornalistas formadas, como mostra os dados da UFG, a
presença delas no sindicato não é tão grande.
*Reportagem de outubro de 2019
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