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  • Foto do escritorRepórter Guará

Mulheres jornalistas nas lutas sindicais

SindJor ainda conta com maioria masculina


Heloisa Sousa


Denise Rasmussen é jornalista autônoma e secretária-geral do Sindicato dos Jornalistas

de Goiás (SindJor) desde agosto, quando a nova chapa assumiu a direção do sindicato.

Ela se filiou em 2015, quando encontrou suporte na corporação após sofrer assédio

devido a reclamações quanto à carga horária dos jornalistas. Denise foi acusada pelo

local em que trabalhava de recorrer ao sindicato para resolver esse problema, e foi assim

que se filiou à instituição: “falei: já que eu estou sendo acusada de algo que eu não sei,

vou verificar isso aí. E foi quando eu conheci o sindicato”, conta.


Mesmo que Denise ocupe cadeira na parte executiva do sindicato, a maioria da diretoria

ainda é composta por homens. Geralda Cunha, jornalista e radialista não sindicalizada

na capital goiana, fez alguns apontamentos a respeito dessa discrepância na direção. “As

mulheres sempre foram relegadas ao segundo plano, elas quase nunca ocuparam espaço

de chefia sindical, de militância social e partidária”. Segundo ela, as mulheres até são

bem-vindas nesses seguimentos, mas para receber ordens e nunca para ocupar cargos de

chefia.


O Sindicato dos Jornalistas de Goiás já teve mulheres na presidência, como é o caso de

Maria José Braga, que hoje preside a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), onde

de nove pessoas na diretoria, sete são mulheres. Essa diferença entre a federação

nacional e o sindicato goiano pode ser explicada pelo fato de que na década de 90, foi

estabelecido pela Fenaj que 30% da direção deveria ser ocupada por mulheres, sistema

de cotas que não está previsto no estatuto do Sindicato dos Jornalistas de Goiás.


Sala de aula de turma do curso de jornalismo na UFG, todas as estudantes na foto são mulheres.
Diferente do espaço sindical, a sala de aula tem maioria de mulheres. Foto: Heloisa Sousa

O número de mulheres que são filiadas ao SindJor é de 155, enquanto os homens

correspondem a 238 membros agregados (dados de 2019). A diferença nos números de presença masculina e feminina quando o assunto é formação jornalística também está presente nas salas de aula do curso de jornalismo da Universidade Federal de Goiás (UFG). Do ano 2000 até 2016, dos 722 estudantes formados no curso em questão, 486 eram

mulheres, segundo a Coordenadoria de Expedição e Registro de Diplomas da UFG,

diferença que não é proporcional à quantidade de mulheres jornalistas sindicalizadas.



Machismo Estrutural


A não filiação dos jornalistas formados já é uma pauta dentro do sindicato regional, mas

a ausência das mulheres nesse espaço em comparação aos homens não têm uma

explicação evidente. Cláudio Curado, presidente do SindJor, acredita que a falta de

consciência política pode ser um fato responsável por essa não filiação. Segundo ele,

isso, aliado a outros fatores sociais como os trabalhos domésticos, maiores jornada de

trabalho e a maternidade, também é o principal motivo pelo número de mulheres no

sindicato ser o atual. “Há esse distanciamento porque não há essa consciência crítica do

cidadão”.


Mas o buraco é bem mais embaixo, como lembra Maria José, quando se fala da

participação feminina na luta sindical. Para ela, o problema também se relaciona à

estrutura social sob a qual homens e mulheres vivem, que coloca sobre as mulheres

duplas a até triplas jornadas de trabalho, enquanto os homens não se sentem

responsáveis por também assumir esses papéis e podem se manter nos cargos de

liderança e no protagonismo das lutas sindicais. “Começa da divisão doméstica de

trabalho que sobrecarrega a mulher. Mas, volto dizendo, a situação precisa ser

trabalhada para que haja condições de participações de todos”, diz ela.

Maria José Braga em pronunciamento no Conselho de Comunicação Social
Maria José Braga em pronunciamento no Conselho de Comunicação Social. Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Algumas estudantes de jornalismo, quando perguntadas sobre se pretendem se filiar quando formadas, admitem a importância dessa instituição na garantia de direitos do profissional e demonstram interesse em estar nessa luta. “Se você não tiver jornalista mulher no sindicato não vai ter como atender as necessidades, as demandas que jornalistas mulheres têm, problemas que acontecem só com jornalistas mulheres não são resolvidos”, diz Gabriela Macedo, estudante de jornalismo na Pontifícia Universidade Católica.



Inclusão


A Fenaj tem uma comissão voltada para a atuação das mulheres na federação. Esse tipo

de política que dá abertura para a participação feminina é considerada importante para

Gabriela e também para Geralda. Ambas acreditam que as políticas de incentivo devem

ser promovidas dentro dos sindicatos. “Os colegas homens têm que ser incitados, têm

que ser provocados a garantir condições para que as mulheres tenham interesse e

condições de estar lá”, disse Geralda.


Além da questão de gênero, a questão racial também é trazida por Cláudio Curado. Esse

é outro recorte que ele acredita que deve ser levado em consideração quando se fala de

política de inclusão. A Federação nacional dos Jornalistas conta com uma Comissão de

Identidade Racial, pois, como evidencia Cláudio, se há uma deficiência na presença de

mulheres nessas instituições, a presença de pessoas não brancas é ainda menor.


Denise conta que uma das ações da nova gestão do SindJor é tentar identificar por que

os jornalistas não estão se sindicalizando e entender isso dentro do recorte de gênero.

“O sindicato acabou ficando um pouco distante dos profissionais, então agora estamos

tentando mudar esse cenário e atrair não só mais mulheres, mas também os homens,

pois a luta é de todos”, finaliza ela. O sindicato também tentará uma aproximação com

os estudantes de jornalismo do estado, o que pode ajudar a entender de forma efetiva

porque, apesar de tantas jornalistas formadas, como mostra os dados da UFG, a

presença delas no sindicato não é tão grande.


*Reportagem de outubro de 2019

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