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Comunidade universitária enfrenta novo recomeço

  • Foto do escritor: Repórter Guará
    Repórter Guará
  • 11 de jul. de 2022
  • 8 min de leitura

Com retorno às atividades presenciais após dois anos de pandemia, Universidade Federal de Goiás (UFG) se depara com novos e antigos desafios


Reportagem produzida por Gabriel Penha, Heloisa Sousa, João Gabriel Palhares, Rafaela Ferreira, Rafaela Lima e Willian Oliveira


Depois de mais de dois anos de pandemia e aulas no formato remoto, o Conselho Universitário da Universidade Federal de Goiás (Consuni UFG) decidiu retornar às aulas totalmente presenciais. E durante o período de alta dos casos do vírus da Covid-19 e suas variantes, a vida dos estudantes, assim como a da maioria das pessoas, mudou de forma significativa. Com a retomada presencial, os estudantes estão tendo que se adaptar a essa nova realidade, que se choca com questões econômicas, sociais e sanitárias bastante complexas.


A decisão do Consuni do retorno presencial das atividades universitárias se deu levando em consideração uma série de fatores que envolvem questões sanitárias e educacionais. O Grupo de Trabalho em Saúde e o Comitê Operativo de Emergência da UFG — responsáveis por estudos e recomendações de medidas preventivas contra a Covid-19 —, publicaram, na época, uma nota técnica indicando uma queda significativa do número de casos e mortes em Goiás, além da informação de que 74,2% da população acima de cinco anos no Estado estava com o esquema vacinal em dia.


Atualmente, o Laboratório de Análises Clínicas e Ensino em Saúde da UFG (Laces) realiza testes rápidos gratuitos a toda comunidade universitária, para sintomáticos e contactantes com casos positivos e apresentando sintomas entre três e sete dias. Os exames são fornecidos pela Prefeitura de Goiânia e a UFG entra com a mão de obra. “Com o aumento de casos, a procura pelos testes também aumentou, sendo que, dos 70 testes oferecidos por dia pelo Laces, todos são realizados”, explica a coordenadora do laboratório, Gabriela Silverio Basílio.



Os exames são oferecidos nos Campus Samambaia e Colemar Natal e Silva em três locais, que podem ser consultados no site Retomada UFG, que reúne em um só lugar normativas, orientações para casos suspeitos e material gráfico sobre a pandemia para ser utilizado nos espaços físicos da universidade.


No entanto, mesmo com uma estrutura sanitária para receber a comunidade acadêmica, a universidade deve se atentar a outro ponto: o novo perfil da UFG. O jornal O Popular publicou recentemente que, em dez anos, as cotas mudaram o cara da universidade goiana. Segundo levantamento feito pelo O Popular com base nos dados do sistema Analisa UFG de 2010 a 2021, 52,7% dos matriculados concluíram o ensino médio em escolas públicas. Essa nova realidade de quem ingressou no ensino superior público federal traz outras vertentes de como ele consegue se manter depois de mais de dois anos de pandemia, crise econômica e social.


Não é apenas ingressar na universidade, é preciso permanecer


“Não tenho acesso aos programas de assistência estudantil, inclusive não os conheço”, é assim que responde a estudante de pedagogia, Sarah Silva Ferreira, ao ser questionada sobre os auxílios estudantis. Com diversos desafios, como locomoção, alimentação e moradia, muitos estudantes precisam de apoio financeiro para permanecerem estudando. Em vista disso, projetos de assistência estudantil tem como proposta resguardar esses alunos para conseguirem concluir os estudos. De acordo com o site da Prae, esses auxílios visam levar apoio institucional aos estudantes que se encontram em dificuldades para se manter e permanecer na Universidade.


A estudante Lara Queiroz espera na faixa de pedestre para atravessar. Na foto, vemos seu rosto com uma máscara cirúrgica.
Lara Queiroz saiu de Inhumas, onde morava com a família, para fazer sua graduação na UFG. Foto: Heloisa Sousa

Assim como Sarah menciona, os programas podem não ser conhecidos por falta de divulgação. Na UFG, disponibilizado pela Prae, existem 16 projetos de auxílio estudantil. Sendo que eles se dividem em Programas de moradia estudantil; Programa de Alimentação; Bolsas de Apoio Pedagógico; Bolsa Canguru; Programas Instrumental Odontológico (PIOdont); Programa Acolhe UFG; Programa de Atendimento Especial a Estudantes Indígenas e negros quilombolas; Programa de Esporte e Lazer da PRAE/UFG. Além do Atendimento Emergencial, destinado a estudantes que não podem esperar o edital de cada uma dessas assistências.


Com a necessidade de esperar a seleção no Edital Unificado nestes programas, Lara Queiroz, estudante de Ciências Biológicas, conta que é uma das pessoas que aguarda o resultado. “Eu ainda não tenho acesso a nenhum programa de assistência estudantil, mas estou aguardando o resultado da Bolsa Alimentação, porque eu faço minhas refeições na universidade. Almoço e janto lá quase todos os dias e é um gasto muito grande. Também gostaria de ter acesso à Bolsa Permanência, porque eu vim do interior”, conta. Todos os editais podem ser conferidos no portal da PRAE/UFG, além de saber com mais detalhes sobre os programas disponibilizados para os estudantes da graduação.


Outras alternativas de projetos são as bolsas monitorias, geradas por cada unidade acadêmica, semestrais e com editais e seleções específicas. O estudante de filosofia Ênio Gouveia Borges Filho conta que já teve acesso aos programas de assistência estudantil, mas também foi bolsista do Pibid por um tempo.


O Pibid é o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência, financiado pelo Ministério da Educação (Mec). Segundo o portal oficial do Mec, o programa oferece bolsas de iniciação à docência aos alunos de cursos presenciais que se dediquem ao estágio nas escolas públicas e que, quando graduados, se comprometam com o exercício do magistério na rede pública. O objetivo é antecipar o vínculo entre os futuros mestres e as salas de aula da rede pública. Com essa iniciativa, o Pibid faz uma articulação entre a educação superior (por meio das licenciaturas), a escola e os sistemas estaduais e municipais. Desta forma, consiste em outra possibilidade de remuneração para os estudantes das universidades.




Restaurante Universitário


Oferecendo três refeições por dia — café da manhã, almoço e jantar — o Restaurante Universitário (RU) é uma forma de oferecer refeições de baixo custo e de qualidade para os estudantes da universidade pública federal. Os graduandos pagam, atualmente, R$2,50 no café da manhã e R$4 no almoço e no jantar. Técnicos administrativos, docentes, estudantes do Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação (Cepae) e comunidade externa em geral pagam R$6,12 no café da manhã e R$11 no almoço e no jantar, respectivamente.


O aumento dos valores se deu em janeiro deste ano, após reuniões envolvendo Diretório Central dos Estudantes (DCE/UFG), Coordenadores de Assuntos Estudantis das unidades acadêmicas, membros do Conselho Consultivo e estudantes, a Pró-reitoria de Assuntos Estudantis (Prae/UFG) e a Vogue - Alimentação e Nutrição LTDA, empresa que venceu a licitação para gerenciar os restaurantes.


A qualidade das refeições e do atendimento, no entanto, não acompanhou o aumento dos valores, como conta Lara Queiroz. “Nas primeiras semanas de aula as filas estavam enormes, muita desorganização na hora de servir. Mas a comida não é boa, peixe, por exemplo, eu não consigo comer. A carne está mal passada, os vegetais não estão frescos, a comida não é bem temperada”. O processo de digitalização para acessar o RU, por meio de catracas e do aplicativo para celular, também não agilizou as filas para entrar no refeitório e para servir as refeições.


“No começo do ano quiseram tirar completamente o subsídio dos estudantes da pós-graduação. A gente se mobilizou e eles voltaram atrás. Passados dois meses, quiseram tirar parcialmente o subsídio desses estudantes que são bolsistas, que não podem trabalhar porque têm dedicação exclusiva e agora tem que pagar praticamente o dobro dos graduandos. Isso escancara vários problemas, como as filas absurdas todos os dias na hora do almoço, de modo que os estudantes trabalhadores não podem esperar para fazer a refeição”, explica Ênio Gouveia. O aumento no valor das refeições para os estudantes da pós-graduação tem gerado revolta e manifestações desde a reabertura do Restaurante Universitário.


O último protesto, no dia 04 de julho, no RU do Campus Samambaia teve como resposta a interrupção dos serviços da unidade por dois dias, deixando os estudantes e comunidade externa sem acesso às refeições. Segundo os estudantes, a manifestação era contra o aumento do valor da refeição da pós-graduação, que passou de R$4 para R$7,34, no início do mês. Até o fechamento desta reportagem não obtivemos resposta da Vogue.


Transporte coletivo Os obstáculos para o acesso à universidade, para alguns, já vem desde a saída de casa. Mesmo com cerca de 15 linhas, que cobrem a região do Campus II Samambaia da UFG, estudantes relatam, constantemente, problemas com superlotação e longos tempos de espera.


Familiarizado, recentemente, com o sistema de transporte público da capital, o estudante de física Thomaz Oliveira conta que, além da enorme dificuldade para aprender a utilizar o meio de transporte - já superada -, as dificuldades se sobressaem até ao enfrentamento de incessantes horas de locomoção até o campus. “Preciso ficar quase quatro horas diárias dentro do ônibus, atividade extremamente desgastante”, relata.



A história se repete na narrativa de cada um dos universitários entrevistados. No caso do estudante de filosofia Ênio Gouveia, o transporte público passou a não ser mais uma alternativa tão viável, pois, segundo ele, a RedeMob - consórcio que administra a Loja Sitpass - realizou o bloqueio do seu Passe Livre Estudantil por 60 dias. O benefício, que proporciona duas viagens por dia e até 48 viagens por mês para os estudantes regularmente matriculados nas instituições de ensino conveniadas, fez com que Ênio começasse a se deslocar até o campus por meio de sua bicicleta.


Apesar de um caminho longo, o estudante releva. “De bicicleta é bem tranquilo, me viro bem enquanto não tem transporte público decente”. Tirando do próprio bolso, o estudante voltou ao transporte, na última semana, e a reclamação segue. “Ônibus sempre está muito cheio. Faz anos que precisamos de linhas novas, de aumento da frota, mas é tudo dominado pelas empresas de ônibus que cobram valores absurdos para fornecer esse serviço”, completa. Atualmente, R$4,30 é o valor da passagem na região metropolitana de Goiânia.


A última movimentação nas linhas do campus aconteceu no dia 25 de maio, após o Diretório Central dos Estudantes da UFG (DCE/UFG) entregar um abaixo-assinado, com 500 assinaturas, para a Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC). O ato retornou com a circulação da linha 914 - Pç Campus / Pç Universitária, desativada durante a pandemia.


Mesmo passados cerca de dois meses da liberação da rota, as reclamações por mais demanda continuam. Em busca de um posicionamento sobre novas linhas, a redação entrou em contato com a CMTC, mas não houve discussão sobre o assunto. Segundo a assessoria de imprensa, ainda não é possível fornecer as informações, uma vez que, após a publicação da Lei Complementar nº 169 há transformações acontecendo no sistema de controle da companhia.


O documento, publicado em 21 de dezembro de 2021, reformula a Rede Metropolitana de Transporte Coletivo da Grande Goiânia (RMTC) e, também, reestrutura a Câmara Deliberativa de Transportes Coletivos e CMTC. No Art. 15º, a lei retoma a competência da companhia, sendo alguma delas:


II - planejar a operação dos serviços na Rede Metropolitana de Transporte Coletivo da Grande Goiânia, em suas linhas e seus itinerários, e dimensionar a oferta de acordo com a demanda, com observância dos princípios da modicidade tarifária, da continuidade, da sustentabilidade econômico - financeira, da máxima integração e da proteção dos interesses dos usuários;


III - fomentar e assegurar a constante inovação e o aumento da eficiência do sistema de transporte público coletivo na Rede Metropolitana de Transporte Coletivo da Grande Goiânia;


Diante do documento citado pela assessoria, há o reforço das responsabilidades da companhia diante do planejamento das operações e de fiscalizações das linhas. As informações prestadas pela CMTC, reforçam que, apesar das transformações internas, já houve mudanças no sistema, como novas modalidades de cartões, Passe Livre Trabalhador e Bilhete Único, e novas frotas.


Apesar dos dados, nenhum benefício ligado diretamente ao cotidiano dos estudantes e da universidade foi apresentado. Assim, foi solicitado pela assessoria, o retorno no prazo de 30 à 45 dias. A redação tentou contato, também, com a RMTC, mas não houve retorno. De acordo com fontes da própria Prefeitura de Goiânia, a pasta não possui assessor.




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