As mulheres nas lutas da América Latina
- Repórter Guará
- 16 de dez. de 2019
- 4 min de leitura
Atualizado: 4 de jan. de 2020
Do "sul" ao "norte", as memórias de mulheres revolucionárias foram sendo apagadas e não contadas
Reportagem: Rafaela Ferreira

Na América Latina são vinte países, com vinte histórias diferentes, com milhares de cultura e povos originários. São diversas as semelhanças entre essas vinte nações, porém, a mais particular, e a qual a seguinte matéria irá tratar, é: a luta das mulheres latino-americanas. Invisibilizadas ou pouco conhecidas, a participação das mulheres na história é um fato que foi negado.
A construção de heróis de revoluções e guerras se moldou apenas em figuras masculinas. Quando falamos de símbolos de revoluções nomes surgem imediatamente em nossas cabeças, como o Che Guevara, na Bolívia, e Fidel Castro em Cuba. Porém mulheres também estiveram presentes e ativas em cada etapa da história da América Latina. Em paralelo ao Guevara, viveu Domitila Chungara, e com Fidel, Celia Sánchez e Vilma Espín.
Subindo
Descendo
Em 1943, Joaquín Torres García fez um esboço à caneta do que parecia ser um mapa. Nele havia o desenho da América do Sul, o que muitos começaram a chamar de “América Invertida”, porém Garcia fez o desenho no propósito de mostrar que não existe norte para nós, nosso norte deve ser o sul. Não estamos invertidos no desenho, mas também não estamos em baixo.
Embora o desenho represente apenas a América do Sul, ele se tornou simbólico para a América Latina. Nessa lógica de subir/descer, o México se encontra como o primeiro (ou último) país no mapa da latinoamérica. Como vários países da AL, o México teve um forte apagamento das mulheres ao longo de sua história.
De acordo com o Instituto Nacional de Estática e Geografia do México (INEGI), em 1910 a porcentagem de mulheres no país era de 50,5% e em 2015 foi de 51,4%. Tais dados ilustram como, desde o ano da Revolução Mexicana, as mulheres sempre foram a maioria da população, porém invisibilizadas.
A Revolução Mexicana foi uma luta camponesa e de proletários, em que teve como característica a revolta contra o presidente Porfírio Díaz, que já estava no poder a três décadas. As mulheres conquistaram espaço nessa revolução de diversas formas, desde na luta em si, a ocupação do mercado de trabalho e as soldadeiras. As soldadeiras foram as camponesas e trabalhadoras que lutaram na Revolução Mexicana.
Nesse mesmo período contra o governo autocrático de Porfirio Díaz que o movimento zapatista se inicia. Junto desse movimento, estavam às mulheres, mais especificamente, as mulheres indígenas. Inspirado em Emiliano Zapata, que lutou contra o regime de Díaz, o movimento zapatista uniu indígenas de várias etnias e camponeses na luta a favor da libertação nacional do México, pelos direitos camponeses e a luta contra o acordo de livre comércio dos Estados Unidos, Canadá e México.
No Exército Zapatista de Liberação Nacional (EZLN), os papéis sociais não eram divididos por gênero, sim habilidade e experiência. Tal questão deu uma maior perspectiva para mulheres indígenas e camponesas. Comandanta Ramona foi uma líder zapatista que é símbolo da luta. Ramona nasceu em 1959, em Chiapas, com origem étnica tzotuk, foi ela quem ajudou a criar a Lei Revolucionária das Mulheres.
No coração
Do “norte” ao “sul”, existe o centro e nesse centro a memória das mulheres também devem ser lembradas. O Haiti tem um longo histórico de conflitos e guerras, uma delas foi a Revolução Haitiana. Com 12 anos de luta pelo fim da escravidão, a revolução de Haiti foi de 1791 a 1804, e foi nesse período que começa o levante contra a colonização branco-europeia para com os povos africanos.
Na luta pela emancipação dos corpos negros que foram sequestrados para o Haiti, as mulheres não ficaram excluídas como narra a historia escrita pelos homens. A presença das mulheres foi forte na guerra do Haiti, onde diversas se tornaram soldados e sargentos. Suzanne Sanité Bélair participou ativamente na revolução, onde serviu ao exército Toussaint L’Ouverture como sargento e participou do confronto contra o exército de Napoleão.
As mulheres não marcam presença na história das revoluções e lutas apenas quando entram em combate. Cécile Fatiman é um exemplo disso, mesmo que não chegou a lutar ativamente, Cécile foi uma força simbólica na revolução. O vodu é uma religião com origem africana, em que, até dias atuais, é uma religião fortemente marcada no Haiti. Fatiman foi uma das responsáveis na cerimônia vodu Bwa Kayiman, em que guiou espiritualmente os guerrilheiros.
Descendo
Subindo
Liderando uma greve, criando um movimento e protestando contra uma ditadura militar na Bolívia. Essa foi a Domitila Chungara, líder de um movimento de mulheres camponesas e mineradoras para não aceitar o cenário narco-militar em que a Bolívia se encontrava.
O governo ditatorial no país de Chungara durou quase 20 anos. Nesse período Domitila se cansou de ver os trabalhadores das minas sendo mortos pelas insalubres condições de trabalho. Foi a partir disso, que ela inciou um movimento para reunir as esposas para lutar por melhores condições.
Durante o ativismo de Domitila Chungara, ela foi tortura diversas vezes. Em uma delas, Domitila estava grávida, em que teve uma aborto devido a repressão. Já fazem sete anos desde que Domitila morreu, mas viveu de Cochabamba para o mundo com sua força revolucionária.
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