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As mulheres nas lutas da América Latina

Atualizado: 4 de jan. de 2020

Do "sul" ao "norte", as memórias de mulheres revolucionárias foram sendo apagadas e não contadas


Reportagem: Rafaela Ferreira


Imagens de homens são lembradas, mas onde estão as mulheres nos livros? ARTE Rafaela Ferreira
Imagens de homens são lembradas, mas onde estão as mulheres nos livros? ARTE Rafaela Ferreira

Na América Latina são vinte países, com vinte histórias diferentes, com milhares de cultura e povos originários. São diversas as semelhanças entre essas vinte nações, porém, a mais particular, e a qual a seguinte matéria irá tratar, é: a luta das mulheres latino-americanas. Invisibilizadas ou pouco conhecidas, a participação das mulheres na história é um fato que foi negado.


A construção de heróis de revoluções e guerras se moldou apenas em figuras masculinas. Quando falamos de símbolos de revoluções nomes surgem imediatamente em nossas cabeças, como o Che Guevara, na Bolívia, e Fidel Castro em Cuba. Porém mulheres também estiveram presentes e ativas em cada etapa da história da América Latina. Em paralelo ao Guevara, viveu Domitila Chungara, e com Fidel, Celia Sánchez e Vilma Espín.



Subindo

Descendo


Em 1943, Joaquín Torres García fez um esboço à caneta do que parecia ser um mapa. Nele havia o desenho da América do Sul, o que muitos começaram a chamar de “América Invertida”, porém Garcia fez o desenho no propósito de mostrar que não existe norte para nós, nosso norte deve ser o sul. Não estamos invertidos no desenho, mas também não estamos em baixo.


Embora o desenho represente apenas a América do Sul, ele se tornou simbólico para a América Latina. Nessa lógica de subir/descer, o México se encontra como o primeiro (ou último) país no mapa da latinoamérica. Como vários países da AL, o México teve um forte apagamento das mulheres ao longo de sua história.


De acordo com o Instituto Nacional de Estática e Geografia do México (INEGI), em 1910 a porcentagem de mulheres no país era de 50,5% e em 2015 foi de 51,4%. Tais dados ilustram como, desde o ano da Revolução Mexicana, as mulheres sempre foram a maioria da população, porém invisibilizadas.


A Revolução Mexicana foi uma luta camponesa e de proletários, em que teve como característica a revolta contra o presidente Porfírio Díaz, que já estava no poder a três décadas. As mulheres conquistaram espaço nessa revolução de diversas formas, desde na luta em si, a ocupação do mercado de trabalho e as soldadeiras. As soldadeiras foram as camponesas e trabalhadoras que lutaram na Revolução Mexicana.


Nesse mesmo período contra o governo autocrático de Porfirio Díaz que o movimento zapatista se inicia. Junto desse movimento, estavam às mulheres, mais especificamente, as mulheres indígenas. Inspirado em Emiliano Zapata, que lutou contra o regime de Díaz, o movimento zapatista uniu indígenas de várias etnias e camponeses na luta a favor da libertação nacional do México, pelos direitos camponeses e a luta contra o acordo de livre comércio dos Estados Unidos, Canadá e México.


No Exército Zapatista de Liberação Nacional (EZLN), os papéis sociais não eram divididos por gênero, sim habilidade e experiência. Tal questão deu uma maior perspectiva para mulheres indígenas e camponesas. Comandanta Ramona foi uma líder zapatista que é símbolo da luta. Ramona nasceu em 1959, em Chiapas, com origem étnica tzotuk, foi ela quem ajudou a criar a Lei Revolucionária das Mulheres.


No coração


Do “norte” ao “sul”, existe o centro e nesse centro a memória das mulheres também devem ser lembradas. O Haiti tem um longo histórico de conflitos e guerras, uma delas foi a Revolução Haitiana. Com 12 anos de luta pelo fim da escravidão, a revolução de Haiti foi de 1791 a 1804, e foi nesse período que começa o levante contra a colonização branco-europeia para com os povos africanos.


Na luta pela emancipação dos corpos negros que foram sequestrados para o Haiti, as mulheres não ficaram excluídas como narra a historia escrita pelos homens. A presença das mulheres foi forte na guerra do Haiti, onde diversas se tornaram soldados e sargentos. Suzanne Sanité Bélair participou ativamente na revolução, onde serviu ao exército Toussaint L’Ouverture como sargento e participou do confronto contra o exército de Napoleão.


As mulheres não marcam presença na história das revoluções e lutas apenas quando entram em combate. Cécile Fatiman é um exemplo disso, mesmo que não chegou a lutar ativamente, Cécile foi uma força simbólica na revolução. O vodu é uma religião com origem africana, em que, até dias atuais, é uma religião fortemente marcada no Haiti. Fatiman foi uma das responsáveis na cerimônia vodu Bwa Kayiman, em que guiou espiritualmente os guerrilheiros.

Descendo

Subindo


Liderando uma greve, criando um movimento e protestando contra uma ditadura militar na Bolívia. Essa foi a Domitila Chungara, líder de um movimento de mulheres camponesas e mineradoras para não aceitar o cenário narco-militar em que a Bolívia se encontrava.


O governo ditatorial no país de Chungara durou quase 20 anos. Nesse período Domitila se cansou de ver os trabalhadores das minas sendo mortos pelas insalubres condições de trabalho. Foi a partir disso, que ela inciou um movimento para reunir as esposas para lutar por melhores condições.


Durante o ativismo de Domitila Chungara, ela foi tortura diversas vezes. Em uma delas, Domitila estava grávida, em que teve uma aborto devido a repressão. Já fazem sete anos desde que Domitila morreu, mas viveu de Cochabamba para o mundo com sua força revolucionária.

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