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  • Foto do escritorRepórter Guará

A arte preenche a cidade

Atualizado: 19 de jul. de 2019

Artistas de rua ocupam a capital goiana exibindo manifestações artísticas nos semáforos, transportes públicos e nas calçadas da cidade.


Texto: Heloisa Sousa

Imagens: Rafaela Ferreira, Gisele Siqueira, Rafaela Lima e Heloisa Sousa


Leca veio de uma família de artesãos e faz permanecer viva arte que aprendeu com o pai. Foto: Rafaela Ferreira.

A arte é democrática por si só. Engana-se quem pensa que arte é só aquela do museu, erudita, que só se pode entender quando um crítico especializado a explica. A arte pode estar em todo e qualquer lugar. Ela está na escrita, está na música, está no cinema e está, sobretudo, nas ruas. Como dizia o poeta Ferreira Gullar, “a arte existe porque a vida não basta”. E se a vida não basta enquanto você espera o semáforo abrir, é possível apreciar o Andres fazendo malabarismo para uma plateia em carros e motos. Assim, arte à distância de alguns passos, gratuita.


Andres Bustamante é argentino e aprendeu a fazer malabarismo há oito anos, quando um viajante colombiano o ensinou. Seu sonho era conhecer o mundo e ele viu na arte dos malabares a oportunidade de realizar esse sonho. Desde que começou, ele já conheceu seis países da América Latina, entre eles o Brasil, onde aprendeu a língua portuguesa. "É uma vida simples, nós não ganhamos muita coisa, mas dá pra nos sustentar e tem cidades que são melhores, mas tem cidades que a arte de rua é proibida", conta ele.



Esse ano, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro determinou a proibição de manifestações culturais em estações e alguns transportes coletivos. A prefeitura da capital do Paraná, Curitiba, também foi responsável esse ano por um decreto que limita a apresentação de artistas de rua. Regras como local, tempo médio de apresentação e quantidade de artistas em um lugar são restrições estabelecidas e que provocaram um protesto de artistas de rua na capital paranaense, no início do ano.


Esse tipo de medida ainda não faz parte da realidade goiana, mas a proibição de vendedores ambulantes pelas ruas da capital, que vem acarretando a recolha do material de trabalho pela Polícia Militar, pode ser vista também como um esvaziamento forçado desses espaços por pessoas que trabalham de forma autônoma, como é o caso dos ambulantes e dos artistas de rua.


O intercâmbio que esse tipo de arte proporciona, como é o caso de Andres, é um dos fatores que mantém as ruas da cidade viva. É possível encontrar diversas pessoas de outras regiões do mundo fazendo esse trabalho pelas ruas de Goiânia. Se os grandes centros culturais não são tão acessíveis quanto deveriam, o olho da rua é a resposta, para quem trabalha e para quem aprecia.


Leca trabalhando na Avenida Goiás. Foto: Gisele Siqueira.

Leca é artesã desde que se lembra. Nasceu no Pará e aprendeu o que sabe com o pai. Ela andou muito pelo país até chegar em Goiânia, onde mora há dois anos e meio com sua companheira, Franciele, também artesã. Elas se conheceram em Belo horizonte, mas vieram para cá por conta das filhas de Franciele, que moram aqui com pai.


Leca trabalha no centro da cidade vendendo desde brincos até esculturas de durepox, mas conta que o preconceito é um dos principais inimigos na vida como artista de rua. "Não é difícil eu viver da arte, é difícil os olhares das pessoas em relação à minha arte e à minha opção sexual. Tem muitas pessoas que gostam mesmo da arte e outras não, outras deduzem que todo mundo ou mora na rua ou usa droga ou bebe".


Ela já trabalhou como auxiliar de odontologia, administradora, auxiliar de cozinha, mas não conseguiu ficar longe da liberdade que trabalhar com artesanato lhe proporciona. "Eu não me encontrei. É uma coisa legal para poder trabalhar, mas fica muito repetitivo. Você está sempre fazendo a mesma coisa e com arte, não. Nunca é igual, um trabalho nunca sai igual o outro. Nunca um dia que você tem é igual o outro e sempre você está conhecendo pessoas novas".


"Eu acredito nela (a arte) como a minha casa, o lugar onde eu me sinto à vontade no mundo". Foto: Rafaela Lima.

Adriel Vinícius é estudante de artes, mas já é conhecido em Goiânia por cantar e tocar no Eixo Anhanguera, que cruza toda a cidade. Ele trabalha com música há algum tempo, já lançou alguns CDs e toca nos espaços culturais da capital, mas enxerga o trabalho na rua "não só como sobrevivência, mas também como uma busca utópica pela liberdade", como ele mesmo descreveu, "Liberdade de não estar preso à possibilidades que poderiam fechar minha expressão ao que se espera".



Foi no Rio de Janeiro que teve o primeiro contato com essa arte na prática, mas sua história musical começou desde que nasceu, pois toda sua família era envolvida com a música e por isso acredita que tocar é apenas um detalhe. "A questão da música é muito mais do que tocar porque eu acho que quem ouve também está executando a arte".



E por falar em rua... confira Rua da Amargura, de João Pedro Felix.


Veja também o documentário "Esquinas, A Arte em Trânsito", que fala mais sobre Andres, Leca e Adriel.

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